Ford: último dia de produção de caminhões em São Bernardo – O Grande ABC

Ford: último dia de produção de caminhões em São Bernardo

Foto: Adonis Guerra

Com a participação de trabalhadores atuais e já desligados após a decisão de encerramento da produção pela Ford, em São Bernardo, o Sindicato realizou ontem a última assembleia na montadora. A produção de caminhões se encerra hoje na planta.

O presidente do Sindicato, Wagner Santana, o Wagnão, lembrou a história de luta dos trabalhadores para tentar reverter a decisão da matriz e a busca por um bom acordo de indenização.

“Utilizamos de todos os instrumentos possíveis, tivemos conversas com governos federal, estadual e municipal, Ministério Público do Trabalho e Caoa. Inclusive já negociamos com a Caoa um acordo coletivo. Ao mesmo tempo, discutimos a saída de cada um para que fosse a menos traumática possível.”, ressaltou.

O presidente do Sindicato cobrou o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para que libere o financiamento pedido pela Caoa para efetivar a compra da planta da Ford.

“O BNDES deveria, se tivesse preocupação social de fato, ser o primeiro a intervir e se preocupar com o lado dos trabalhadores e com a produção nacional de veículos. Mas, por esse governo ter uma política voltada para os poucos endinheirados na sociedade, não parece se importar com os trabalhadores que ficarão desempregados na Ford e, em consequência, nas autopeças, fornecedores e setor de serviços”, disse.

“Essa assembleia é de despedida enquanto trabalhadores na Ford, porque nós ainda acreditamos que as coisas podem mudar. O futuro para que parte dos trabalhadores continue nesta planta depende de decisão política exclusiva do BNDES, depende que alguém nesse governo federal tenha coragem de tomar a decisão a favor do emprego. Vamos continuar caminhando. Agradeço a cada companheiro e companheira aqui que ajudou a construir esta luta”, afirmou.

O presidente do TID-Brasil (Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento), ex-presidente do Sindicato e CSE na Ford, Rafael Marques, destacou que cada trabalhador presente na assembleia representa a luta coletiva.

“No mínimo, trabalharam aqui 100 mil trabalhadores. A primeira Comissão de Fábrica foi conquistada na luta aqui. O primeiro PDV da história também foi aqui, junto com a Volks, na época da Autolatina. O Brasil inteiro acompanhou as greves feitas aqui”, lembrou.

“Vocês são os gigantes da classe trabalhadora brasileira. Os trabalhadores vestem o oval (símbolo da montadora) do lado direito do peito, mas o lado esquerdo é de lutas, que deram impulso a conquistas de direitos”, prosseguiu.

“Temos que olhar para frente, mas neste momento também temos que olhar a trajetória e entender os motivos e impactos da decisão da Ford, de fechar um negócio que ia bem, com projeção de crescimento e com outras fábricas da base, Mercedes e Scania, indo bem”, disse.

Rafael falou sobre o projeto de lançar um livro e um seminário sobre o tema no ano que vem. “Temos que transformar em resistência e inteligência o sofrimento e a luta que foi esses anos todos para manter essa fábrica erguida”, contou.

“Muita luta, fé na vida, direitos, coragem para não esmorecer e seguir sendo pessoas solidárias, unidas e que acreditam que a luta sempre vale a pena”, afirmou.

O dirigente Adalto de Oliveira, o Sapinho, da coordenação do CSE na Ford, lembrou que o Sindicato fez tudo o que era possível e estava ao alcance para impedir o fechamento da fábrica.

“A Ford desistiu do ABC, mas nós não. Tenho certeza, se Lula fosse presidente, isso não estaria acontecendo. Vamos sair de cabeças erguidas e com a missão cumprida. Aqui tem trabalhadores de luta e qualificados. A nossa luta continua”, concluiu. 

Os desligamentos dos horistas se darão a partir de amanhã. Os mensalistas, em áreas administrativas que não foram impactadas pela decisão, serão transferidos em março para São Paulo.

Histórico

O Sindicato esteve à frente de todo o processo de luta em defesa dos empregos que mobilizou os trabalhadores em 42 dias de paralisação, desde o anúncio de fechamento da planta, em 19 de fevereiro.

Antes disso, em janeiro, os trabalhadores fizeram uma série de mobilizações para cobrar investimentos de futuro na planta.

Foram realizadas assembleias, atos, reuniões com governos municipal, estadual e federal, e com a matriz da Ford nos Estados Unidos para tentar reverter a decisão.

No final de abril, os trabalhadores aprovaram por unanimidade o pacote de indenização negociado pelo Sindicato, que incluiu PLR, Plano de Demissão Incentivada, amparo psicológico, cursos de requalificação profissional, entre outros.

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