Jovens na política: por que a juventude está sendo deixada de fora das decisões cruciais?
A falta de jovens na política reflete um sistema que exclui suas vozes essenciais nas decisões que moldam o futuro, gerando um ciclo vicioso de desengajamento.
Quando apenas 2% dos vereadores das capitais brasileiras têm menos de 30 anos, é preciso perguntar: por que os jovens estão ausentes da política?
Os números são alarmantes. Apesar do aumento da participação eleitoral jovem entre 2018 e 2022, a filiação partidária continua em declínio. Apenas 1% das pessoas com até 24 anos estão filiadas a partidos políticos, e entre 2022 e 2023, o número de jovens filiados caiu 14% (TSE, 2023). Ao mesmo tempo, o estudo Juventudes no Brasil, conduzido pelo Observatório da Juventude na Ibero-América (OJI) em parceria com as universidades UFF, UniRio e UERJ, que ouviu jovens de 15 a 29 anos em todas as regiões do país, revelou que 82% da juventude brasileira não confia nos partidos políticos, e 80% desconfia do Congresso Nacional. Se a política parece inacessível, desconectada da realidade e pouco confiável, como esperar que os jovens se sintam motivados a participar?
Essa exclusão política não é por acaso. O sistema eleitoral exige capital financeiro e influência política, recursos que nem todos os jovens possuem. Além disso, os partidos continuam resistentes à renovação de suas lideranças, e nas escolas, a educação política é quase inexistente. Não surpreende, portanto, que entre 2015 e 2022, os cinco maiores partidos do Brasil registraram uma queda de 56% no número de filiados jovens (O Globo, 2022).
O resultado? Um ciclo vicioso: os jovens não se veem representados na política, enquanto as decisões políticas continuam sendo feitas sem sua participação.
Mas esse cenário não pode ser naturalizado. Se os jovens não estão nas cadeiras do Legislativo, serão outros que decidirão sobre questões essenciais para nosso presente e futuro: educação, trabalho, meio ambiente, moradia, direitos civis.
É por isso que projetos que incentivam a participação política dos jovens são não apenas importantes, mas urgentes. O Projeto de Lei CM nº 39/2025, em Santo André, propõe a criação do “Programa Parlamento Jovem”, que permitirá que estudantes do ensino fundamental e médio se envolvam diretamente no processo legislativo, debatendo e propondo soluções para os problemas que afetam sua geração. Este projeto é fundamental para garantir que a juventude tenha uma representação efetiva nas decisões políticas e para que ela possa, de fato, ocupar os espaços de poder.
Iniciativas como essa são fundamentais para fortalecer a cidadania e demonstrar, na prática, como o engajamento coletivo pode levar à transformação social. Quando os jovens participam desses espaços, não apenas adquirem conhecimento para, no futuro, ocuparem a política institucional, mas também desenvolvem senso crítico, aprendem a defender seus direitos e contribuem ativamente para a formulação de políticas públicas mais inclusivas.
Estudos mostram que experiências como essa têm um impacto real na trajetória política dos participantes. O Parlamento Jovem Brasileiro (PJB), criado pela Resolução nº 12/2003 da Câmara dos Deputados e regulamentado pelo Ato da Mesa nº 49/2004, revelou que 27,48% dos ex-integrantes se tornaram mais motivados e engajados na política partidária, contrastando com a tendência geral de desinteresse entre os jovens (Periódicos UFV, 2014).

Além disso, egressos do PJB relataram aumento na confiança nas instituições políticas e maior envolvimento social e cívico, como a participação em associações civis e o acompanhamento da agenda política.
No Parlamento Jovem Brasileiro (PJB), ex-integrantes conseguiram transformar suas propostas em leis municipais e estaduais, abordando temas como mobilidade urbana, direitos estudantis e políticas ambientais. Um exemplo notável é o projeto que dispõe sobre a obrigatoriedade de exames oftalmológicos e auditivos nas escolas de ensino fundamental da rede pública, apresentado em 2004. Essa iniciativa foi apadrinhada por parlamentares e serviu de base para discussões legislativas sobre a saúde dos estudantes.
Infelizmente, nem todos os projetos encontram espaço para se concretizar. Em Ribeirão Preto, o Parlamento Juvenil, criado por uma resolução do ex-vereador Jorge Parada (PT), garantiu um espaço para que jovens se engajassem no debate público. No entanto, há três anos, a iniciativa foi desestruturada sob a presidência de Franco Ferro e desde então sofreu sérias restrições:
Jovens parlamentares foram proibidos de usar o plenário;
Nos últimos dois anos, a eleição para novos membros não foi convocada, impedindo a renovação do Parlamento.
Apesar das pressões pela reativação do Parlamento, a nova presidência da Câmara, agora comandada pelo PL, tem dificultado sua retomada. Essa resistência não revela apenas uma negação do espaço político jovem — ela é uma forma de combatê-lo ativamente.
Sabemos, por experiência própria, que os jovens enfrentam diversos obstáculos ao entrar na política, desde a falta de incentivo e de educação política nas escolas até a resistência de estruturas tradicionalmente ocupadas por figuras mais velhas e conservadoras.
É uma contradição profunda, somos justamente os mais impactados pelos grandes desafios do Brasil. Enfrentamos o sucateamento da educação, as maiores taxas de desemprego e até mesmo carregamos a incerteza de um futuro sem aposentadoria. Ainda assim, nossas vozes continuam sendo ignoradas nos espaços de decisão, o que dificulta a construção de soluções eficazes para os problemas que mais nos atingem.
Criar caminhos para a participação jovem não é um favor, é uma necessidade democrática. O Parlamento Jovem pode ser um desses caminhos, mas é fundamental ir além: garantir que o engajamento dos jovens seja contínuo e não episódico. A transformação estrutural na política começa com a inclusão da juventude, e o futuro político não pode ser decidido apenas pelos mesmos de sempre. A juventude não vai esperar ser convidada para participar.
*Clóvis Girardi – planejador territorial e mestrando em Planejamento e Gestão do Território pela Universidade Federal do ABC e Vereador de Santo André pelo Partido dos Trabalhadores.
**Duda Hidalgo – advogada e primeira parlamentar LGBT da Câmara Municipal de Ribeirão Preto, defensora dos direitos humanos e da moradia digna.
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