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Brincadeiras Saudáveis: Uma viagem artística à infância e à cultura do brincar

Coluna Rafael Marques*

A obra Brincadeiras Saudáveis, da artista plástica Joselaine Barbosa, é mais do que uma simples pintura: é um convite nostálgico à redescoberta das brincadeiras da infância, uma celebração da cultura lúdica e uma crítica sutil aos tempos modernos, em que o uso excessivo de telas tem substituído o brincar ao ar livre e a socialização entre as crianças.

Segundo a própria artista, a inspiração para a criação da obra veio numa madrugada silenciosa, através de um sonho peculiar. Nele, Joselaine via traços curvos e uma letra, sem entender de imediato seu significado. Ao acordar, decidiu começar pelos elementos que havia visto: desenhou uma letra e, ao redor dela, linhas sinuosas. Aos poucos, como se guiada por memórias e sentimentos, surgiram a bola de futebol, o aviãozinho de papel, cordas, e outras imagens que remetem ao universo infantil de décadas passadas — um tempo em que a rua era palco de imaginação, os quintais abrigavam mundos mágicos, e a interação entre crianças era física, viva e ruidosa.

Foi assim que nasceu o tema Brincadeiras Saudáveis, uma resposta sensível e artística aos debates que, na época da criação da obra, tomavam conta da mídia: os prejuízos do uso abusivo de celulares por crianças e adolescentes. Em vez de criar uma crítica direta, Joselaine optou por apontar caminhos. Sua tela apresenta alternativas — brincadeiras simples, acessíveis e cheias de significados, que promovem o movimento, a convivência, o riso e a criatividade.

Ao observar a pintura, cada elemento provoca uma reação. É inevitável que o público se pergunte: “Quantas dessas brincadeiras ainda existem no cotidiano das crianças de hoje?” E mais: “Qual delas eu já pratiquei?” Seja empinar pipa, pular corda, rodar pião ou brincar de queimada, a obra desperta memórias afetivas e convida à reflexão. Muitos identificam a letra “J” — inicial do nome da artista — entre os traços principais da pintura, como se ela estivesse ali desde o início, guiando o pincel invisível do sonho.

A obra também propõe um exercício de imaginação: “Qual brinquedo ou brincadeira faltou?” Talvez obilboquê, o jogo de taco ou o esconde-esconde? A tela não é uma lista definitiva, mas um ponto de partida, um lembrete visual de que brincar é essencial ao desenvolvimento humano, tanto físico quanto emocional.

E para além da mensagem nostálgica e educativa, Brincadeiras Saudáveis também abraça a inclusão. Dias após sua primeira exposição, na reinauguração da Pinacoteca Municipal de Ribeirão Pires, Joselaine convidou a artista Rita Meireles para realizar uma releitura tátil da obra. O desafio foi aceito, e Rita “arrasou”, como descreve Joselaine. A releitura permitiu que pessoas com deficiência visual pudessem experimentar, por meio do tato, as formas e significados da obra — transformando a pintura em uma peça de arte verdadeiramente acessível e inclusiva.

Hoje, Brincadeiras Saudáveis está disponível para visitação, junto com obras de outros talentosos artistas do CARP (Coletivo de artistas de Ribeirão Pires), na Câmara Municipal de Ribeirão Pires, no espaço Multicultural Archângela Manno, aberta de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h, até o dia 20 de junho. A exposição é gratuita e promete emocionar adultos e inspirar crianças.

Fica aqui o convite: que tal deixar o celular um pouco de lado, chamar os amigos para a rua e reviver juntos essas brincadeiras tão simples e tão poderosas? Que tal incentivar as novas gerações a se movimentarem, a se tocarem, a brincarem — como antes, como sempre?

Porque brincar é saudável, é arte, é cultura. É vida.

*Rafael Marques é Escritor, pedagogo, filósofo e Psicanalista. Especialista em Educação Especial, História da cultura Afro, literatura e Terapeuta Ocupacional na saúde mental. Atua como Coordenador Pedagógico em uma Escola Municipal da Cidade de São Paulo. Tem 6 livros publicados e é integrante do CARP e do Clube de escritores de Ribeirão Pires.

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