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“O PT precisa fazer a transição geracional nesta eleição se quiser permanecer como o maior partido do Brasil”, diz Clóvis Girardi

Clóvis Girardi, candidato a vereador em Santo André pelo Partido dos Trabalhadores (PT), tem se destacado por suas propostas inovadoras e seu compromisso com a justiça social e territorial. Com uma trajetória que combina experiência acadêmica e prática em planejamento urbano, Clóvis traz uma visão jovem e engajada para a política local. Entre suas principais bandeiras está a implementação da Tarifa Zero no transporte público, uma iniciativa ambiciosa que promete transformar a mobilidade urbana na cidade.

Nessa entrevista, Clóvis fala sobre os desafios e as oportunidades de sua candidatura, suas motivações e objetivos, além de suas perspectivas para o futuro de Santo André.

TARIFA ZERO EM SANTO ANDRÉ

OGABC: Uma das suas bandeiras é a Tarifa Zero. Como seria possível viabilizar esse projeto na cidade de Santo André? Como funcionaria o financiamento e a operação do sistema de transporte sem a cobrança de tarifas dos usuários?

A Tarifa Zero já é uma realidade em 114 cidades do Brasil. São vários modelos de implantação e financiamento diferentes. Seria melhor se tivéssemos um Sistema Único de Mobilidade, com a possibilidade de um fundo nacional voltado à mobilidade com a participação da União e de Estados, conforme a Proposta de Emenda à Constituição apresentada pela deputada Luiza Erundina. Enquanto isso não acontece, Santo André certamente vai encontrar o seu modelo, assim como São Caetano, nossa vizinha, encontrou. 

OGABC: O que você acha do modelo de São Caetano?

Olha, acho que a forma mais fácil de implantar é seguindo o modelo de São Caetano, que funciona mais ou menos como um fretamento de ônibus. Assim, a prefeitura paga um determinado valor por ônibus na rua e viagem executada, independentemente da quantidade de passageiros. Segundo os meus cálculos ainda muito primários por não ter acesso a todos os dados e informações, o modelo custaria algo em torno de 250 a 300 milhões de reais por ano aqui em Santo André, algo em torno de 5% do orçamento. É um valor bastante substancial, eu sei. Mas num município com orçamento de 5,5 bilhões, é factível. Em São Caetano, custa cerca de 1,5%, algo irrisório perto dos benefícios da Tarifa Zero. 

OGABC: E quais os principais benefícios você acredita que estão ligados à Tarifa Zero?

O maior deles é o direito à cidade, né? Grandes centros urbanos como o nosso têm o acesso a serviços e à cidade condicionado ao transporte. Você não chega na UPA sem transporte, não estuda, não vai ao mercado, não trabalha. Nem ao CRAS fazer o CadÚnico você consegue ir se não pagar o transporte. Isso tudo fica ainda mais sensível numa cidade em que cada vez mais as pessoas se deslocam para longe de suas casas para trabalharem. Outro ponto fundamental é parar de cobrar duas vezes de quem mais precisa.

OGABC: Como assim, duas vezes?

Quem usa ônibus hoje em Santo André? Não é a classe média alta ou alta, né? E nós pagamos duas vezes: pagamos impostos sobre consumo e serviços como todo mundo, mas só nós pagamos de novo pela tarifa de ônibus. Imagine se tivéssemos uma catraca na escola e a criança pagasse todo dia? Ou uma catraca na UPA? É a mesma lógica. Mas é um paradigma e a gente sabe que é difícil quebrar, tem muita resistência. Eu proponho, inclusive, que os carros contribuam no financiamento da tarifa. Ora, 10, 20 reais por mês para cada carro não vai mudar a vida de quem anda de carro, mas vai mudar de quem anda de ônibus. E, bom, se não quiser pagar é só andar de ônibus, já que ele vai estar de graça, né? (risos). E se essa for uma tendência, vamos ter um ganho gigantesco. 

Imagine menos carros nas ruas, menos acidentes, menos gasto com asfalto, menos gases poluentes, mais qualidade de vida e saúde coletiva. É difícil mensurar, mas o retorno do investimento no transporte pode ser muito alto. Sem falar no que é injetado na economia local quando as famílias passam a consumir com o dinheiro que seria utilizado no transporte. 

OGABC: Uma das grandes exigências da população Andreense é a melhoria nas condições dos ônibus da cidade. A tarifa zero poderia atrapalhar o investimento na manutenção e modernização do transporte público?

A Tarifa Zero tem que ser também uma ação de melhoria da qualidade no transporte. Não dá mais pra esperar 40, 50 minutos no ponto. Em muitos casos mais de uma hora. Precisamos rever todas as linhas e frequência. Isso sem falar na qualidade dos carros, né? Do jeito que tá não dá mais. Tem ônibus rodando que certamente é mais velho do que eu. A mudança é concomitante: zerar a tarifa, replanejar o transporte e integrar com outros modais. 

PRIMEIRA CANDIDATURA

OGABC: Como vem sendo para você ser candidato a vereador por Santo André e quais são suas principais motivações e objetivos?

Tem sido um movimento lindo, uma experiência fantástica. Nosso grupo político, que nasceu no movimento estudantil da UFABC, me escolheu para estar à frente dessa tarefa. Me sinto honrado e carregado de representatividade de legitimidade para enfrentar esse desafio. Nossa candidatura ganhou apoio de movimentos culturais, de esporte, de educação, das pessoas com deficiência, de idosos, de jovens… É uma candidatura plural e muito participativa.  

OGABC: Você é o único jovem candidato pelo seu partido, o PT. Como você vê a relação entre juventude e política? E como podemos aproximar mais jovens do processo político?

Sou filiado ao PT desde 2017. Decidi me filiar no pior momento do partido e fiz isso por acreditar no PT como grande instrumento de transformação social do Brasil. Mas isso não quer dizer também que concorde com tudo o que o PT faz e fez, principalmente a nível local. E é natural de um partido tão plural como é o PT. Essas divergências de pensamento e de ação acontecem, sinto que há também uma questão geracional no partido. O PT precisa fazer a transição geracional se quiser permanecer como o maior partido do Brasil. Nosso movimento quer também contribuir nesse sentido. 

O Chorão dizia que o jovem no Brasil nunca é levado a sério. E acho que na minha infância e em parte da adolescência cresci com essa ideia. Ouvia que universidade pública não era para pobres, por exemplo. Mas eu sou fruto das políticas dos governos petistas. Sou o primeiro da família a acessar uma universidade pública, a UFABC. Hoje, ainda escuto que política não é para nós, jovens. Acho que há um movimento constante no Brasil de desmobilizar jovens. 

Jovens protagonizaram os maiores movimentos políticos da última década. Junho de 2013 foi um movimento majoritariamente puxado por jovens, eu estava lá, inclusive. Em 2015, secundaristas ocuparam escolas contra o fechamento. No governo Bolsonaro, jovens lideraram movimentos de rua contra cortes na educação e por vacinas. 

Eu acredito que nós, jovens, podemos muito. Temos muita capacidade de transformar o Brasil num lugar melhor. E nosso movimento aqui em Santo André é de contribuir com essa transformação. Nosso movimento é pra mostrar que jovens estão na luta por uma Santo André antirracista, justa, segura, acessível e sustentável. 

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