Debora Mussi: da arte espontânea à consolidação como artista visual
Coluna Rafael Marques*
Debora Mussi, nascida e moradora de Ribeirão Pires, tem 34 anos e carrega uma trajetória marcada pela sensibilidade, pela busca de significado e por uma profunda conexão com a arte. Desde criança, o universo das artes manuais já despertava seu interesse de maneira espontânea, mesmo que ninguém em sua família tivesse relação direta com o fazer artístico como profissão. O primeiro contato mais próximo pode ter surgido na observação cotidiana da mãe, professora, enquanto preparava atividades escolares em casa. Debora, sempre por perto, participava, explorava, criava. Foi nesse ambiente de cuidado e criatividade que os primeiros traços de sua ligação com a arte começaram a se manifestar.
Formada em Design de Interiores, sua trajetória profissional inicialmente tomou um rumo distinto. Durante anos, atuou no mundo corporativo, especificamente na área financeira. No entanto, em 2018, ao perceber que não encontrava mais satisfação no trabalho que desempenhava, decidiu trilhar um novo caminho — mais conectado com sua essência. Foi nesse momento de transição que conheceu o universo das mandalas. Ao mergulhar nesse estudo, formou-se pela HumaniversidadeHolística no curso de Mandalas e Yantras, além de participar de diversas oficinas e cursos sobre técnicas de pintura voltadas para esse tipo de arte, aprofundando-se também nos conhecimentos da Geometria Sagrada — base de toda criação de mandalas.
Em 2021, Debora viveu o nascimento de sua filha Ayla, diagnosticada com Trissomia do 21 (Síndrome de Down). A chegada de Ayla foi, nas palavras de Debora, o maior presente de sua vida. Com a nova rotina e os cuidados que a maternidade exigia, ela optou por pausar sua produção artística por dois anos, dedicando-se integralmente ao desenvolvimento e bem-estar da filha. Esse período, embora desafiador, foi também um tempo de silêncio criativo que viria a se transformar em potência futura.
O retorno à arte aconteceu em 2023, quando Debora retomou as criações com mandalas. No ano seguinte, 2024, deu um passo importante e simbólico: inaugurou seu próprio ateliê e iniciou uma nova vertente artística, dedicando-se também à pintura de murais. A dedicação, o foco e o amor pelo que faz começaram a reverberar para além dos seus círculos próximos. Seu nome passou a se consolidar enquanto artista, e o reconhecimento veio de forma gradual, mas firme.
Hoje, Debora vive o equilíbrio entre sua maternidade e sua realização profissional. A arte, além de ser um meio de expressão, se tornou também uma ferramenta para construir uma rotina mais flexível, que lhe permite acompanhar de perto o crescimento da filha e, ao mesmo tempo, expandir sua atuação artística.
Ao longo dessa caminhada, ela enfrentou desafios internos comuns a muitos artistas: a comparação, a dúvida sobre o valor de sua produção e o sentimento de não pertencimento. Por um tempo, sentiu que suas mandalas não estavam à altura das obras de outros artistas. No entanto, ao revisitar sua história, seu processo e sua entrega, ocorreu a “virada de chave”: o momento em que se reconheceu, de fato, como artista. E, a partir daí, passou a ocupar os espaços que sempre foram seus por direito, como exposições e projetos culturais.
Hoje, Debora acredita que a arte precisa estar em todos os lugares — e que todas as pessoas devem ter acesso a ela. Para ela, a arte possui um poder profundamente transformador, único e pessoal. Em muitos momentos, suas mandalas foram formas de dar corpo a sentimentos, pensamentos e curas internas. Cada criação carrega uma intenção, uma mensagem e uma energia singular.
Sua trajetória é um testemunho da força que existe no reencontro consigo mesma, na coragem de recomeçar e na beleza de transformar a própria história em arte.
*Rafael Marques é Escritor, pedagogo, filósofo e Psicanalista. Especialista em Educação Especial, História da cultura Afro, literatura e Terapeuta Ocupacional na saúde mental. Atua como Coordenador Pedagógico em uma Escola Municipal da Cidade de São Paulo. Tem 6 livros publicados e é integrante do CARP e do Clube de escritores de Ribeirão Pires.
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