Política

Pepe Mujica morre aos 89 anos e deixa legado de luta, ética e simplicidade

Ícone da coerência e da simplicidade, Mujica faleceu aos 89 anos deixando um legado de luta por justiça social e ética na política

Morreu nesta terça-feira (13), em Montevidéu, o ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica, aos 89 anos, em decorrência de complicações causadas por um câncer de esôfago diagnosticado em abril de 2024. A doença, que se espalhou para o fígado, somou-se a uma condição autoimune crônica que limitava suas funções imunológicas. Diante desse quadro, Mujica optou por não realizar tratamentos agressivos. Em uma de suas últimas declarações públicas, disse que “o guerreiro tem direito ao descanso”.

Mujica presidiu o Uruguai entre 2010 e 2015, período marcado por importantes reformas de caráter progressista, como a legalização da maconha, do aborto e do casamento igualitário. Mais do que suas políticas, sua figura se tornou símbolo mundial de coerência entre discurso e prática. Morava numa chácara simples na zona rural de Montevidéu, dirigia um Fusca 1987 e doava quase todo seu salário à caridade. Antes da presidência, foi líder da guerrilha dos Tupamaros e passou 12 anos preso durante a ditadura militar uruguaia, parte desse tempo em condições sub-humanas.

Sua trajetória foi marcada pelo compromisso inabalável com os mais pobres, com a ética na política e com a crítica aos valores do consumismo e da desigualdade. Por isso, aproximou-se de figuras como o Papa Francisco, com quem compartilhava a defesa da justiça social e a visão de uma vida mais simples, centrada na dignidade humana. O Papa chegou a mencioná-lo como exemplo de liderança ética e de compromisso com os valores cristãos aplicados à realidade dos povos.

Mujica também mantinha laços fraternos com lideranças brasileiras, especialmente com o ex-presidente Lula, com quem dividia a visão de que a política deve ser instrumento de transformação para as maiorias excluídas. Em diversas visitas ao Brasil, falou para públicos ligados a movimentos sociais, universidades e sindicatos. Em 2018, chegou a ser cotado por movimentos sociais para falar em ato na região do ABC Paulista, berço da luta sindical que impulsionou a redemocratização do Brasil — região com a qual tinha afinidade ideológica, embora nunca tenha feito visita formal ao sindicato local.

A morte de Mujica gerou uma onda de comoção internacional. O atual presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, afirmou que Mujica “deixa um legado de humildade e coragem que o país jamais esquecerá”. Nas redes sociais, líderes políticos, artistas e intelectuais do mundo inteiro prestaram homenagens a quem, mesmo em vida, já era considerado uma lenda. Para os que lutam por um mundo mais justo, Pepe Mujica seguirá sendo um farol — não por seus cargos, mas pela rara capacidade de viver conforme suas ideias.

Legado e homenagens

A morte de Pepe Mujica gerou uma forte comoção em toda a América Latina e também entre lideranças progressistas de outros continentes. Diversas figuras públicas destacaram sua trajetória como exemplo raro de coerência entre discurso e prática. O atual presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, declarou que Mujica “representa o que há de mais digno na política”. No Brasil, parlamentares, ex-presidentes, sindicalistas e movimentos sociais prestaram homenagens, lembrando sua firme defesa dos direitos humanos, da democracia e da justiça social.

Entre os tributos, destacaram-se também manifestações de intelectuais, artistas e jovens militantes que enxergavam em Mujica uma referência de esperança em tempos difíceis. Sua imagem, marcada por simplicidade e firmeza, se tornou símbolo de que é possível fazer política com ética, humildade e compromisso com os mais pobres. Mesmo após deixar o cargo de presidente, Mujica continuou inspirando debates e mobilizações por uma América Latina mais solidária, democrática e soberana. Seu legado permanece vivo na memória e na prática de quem luta por um mundo mais justo.

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